domingo, 2 de junho de 2013

ATRAVÉS

Fotó de Ary Souza



Quem são os olhos que me enfrentam?
Parei e fui ver através do vidro. A fumaça que encobria o mundo lá fora dificultava um pouco a visão. Posto que estivesse curioso e pego no susto, logo me aproximei do vidro impelido por uma curiosidade tal a de quem se espanta ao perceber um movimento sobre a mesa, e depois, por dar-se conta de que se tratava apenas de uma formiga, ignora. Foi com esta sensação, a de que talvez encontrasse um par de gravetos de uma árvore da rua que movidos pelo vento se assemelhariam a dois olhos; ou um gato qualquer a brincar pelas janelas das casas, que me fez estar voltado para aquela direção. Então olhei através. Tive, naquele momento, a sensação de se tratarem de olhos humanos do lado além do vidro. Miravam-me, inquiriam-me algo.

Por estar tão perto e pela surpresa, afastei-me um pouco e depois pus uma palma de cada lado da face e me reaproximei. Vã tentativa, que o exterior, devido ao vidro, de mim separado, escondia apenas a presença de um vulto a se distanciar. E um pouco mais à frente, as pessoas... Alheias a tudo.

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