Fotó de Ary Souza |
Quem são os
olhos que me enfrentam?
Parei e fui
ver através do vidro. A fumaça que encobria o mundo lá fora dificultava um
pouco a visão. Posto que estivesse curioso e pego no susto, logo me aproximei
do vidro impelido por uma curiosidade tal a de quem se espanta ao perceber um
movimento sobre a mesa, e depois, por dar-se conta de que se tratava apenas de
uma formiga, ignora. Foi com esta sensação, a de que talvez encontrasse um par
de gravetos de uma árvore da rua que movidos pelo vento se assemelhariam a dois
olhos; ou um gato qualquer a brincar pelas janelas das casas, que me fez estar
voltado para aquela direção. Então olhei através. Tive, naquele momento, a
sensação de se tratarem de olhos humanos do lado além do vidro. Miravam-me,
inquiriam-me algo.
Por estar
tão perto e pela surpresa, afastei-me um pouco e depois pus uma palma de cada
lado da face e me reaproximei. Vã tentativa, que o exterior, devido ao vidro,
de mim separado, escondia apenas a presença de um vulto a se distanciar. E um
pouco mais à frente, as pessoas... Alheias a tudo.
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