sábado, 25 de outubro de 2014

ANATOMIA FÁLICA


Fotografia da série "My Private Bestiary" de Zdenek Tusek 



Escondido sob a poeira cotidiana
Seu outro nome
          nó

 tênue anatomia



sábado, 11 de outubro de 2014

ENTRE A PELE E OS OSSOS

Fotografia da exposição "Made by... Feito por brasileiros"




Depois do corte
       Dos cortes

o sangue cai
              por terra
                  
                   e semeia
outros chamados


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

CORA VENENOSA

Foto extraída do Google Imagens

Assistindo a novela das 9, me deparei com uma personagem que definitivamente faz parte das narrativas cotidianas que me rodeiam. Entenda-se por narrativas cotidianas aquelas histórias que chegam até nós pela voz de outros, amigos, parentes, conhecidos. Ela é a tia Cora. Sempre me falaram de presenças incômodas e espíritos opressivos, que não precisam estar necessariamente desencarnados para oprimir.
Algo parecido me veio à mente ontem quando assistia a um capítulo, que talvez fosse só mais um capítulo de novela. Mesmo que você não acompanhe diariamente o folhetim, é difícil não se deliciar com os elementos que fazem a tia Cora transbordar negatividade. A começar pelo cenário, mesmo habitando o núcleo pobre da novela, a tia Cora consegue salvar o raso com a profundidade. O lugar simples, com relevo aos matizes de cinza e à obscuridade, dá um acento a mais aos diálogos entre tia e sobrinha.

Foto extraída do Google Imagens

Sempre com uma palavra oculta, um duplo sentido bem colocado ou uma resposta maliciosa a personagem se esgueira pelos cantos para ouvir onde não é chamada e se torna especialista em jogar a sobrinha pra baixo. A sobrinha poderia ser considerada um outro elemento desse contexto, lembrando que as mocinhas são quase irrelevantes para o interesse das histórias. Assim, nesse caso, como em todos os outros, a mocinha ajuda a vilã a se sobressair.  E mesmo um inocente bom dia, se sai da boca de uma Cora, pode ser suficiente para trazer peso a um instante de leveza ou quebrar uma fugaz alegria.
A sobrinha nesse caso somos nós, seguindo distraidamente e a tia Cora é a pedra que de maneira dissimulada atravessa nosso caminho a fim de nos derrubar. E muitas vezes consegue.


Foto extraída do Google Imagens


Se o perigo é iminente, então como transpor a Cora que está sempre à espreita para abalar os nossos dias, que sem ela já são suficientemente complicados. Quem sabe o conselho da parábola bíblica, “orai e vigiai”, seja a única saída possível, uma vez que, como a Hidra de Lerna, uma outra Cora, ou uma outra cabeça, pode surgir no lugar que acreditávamos livre. Quem sabe não haja resposta para esse fato. No mundo que pressupõe o risco, a simples atitude de virar a esquina e manter diálogo breve com um desconhecido (ou com um conhecido mesmo) pode fazer com que nos deparemos com uma Cora escondida. Acho que a melhor saída está em ser menos mocinha e ter olhos para ver antes do último capítulo.