sábado, 30 de maio de 2015

DE MÃOS DADAS

 
Fonte desconhecida


Sua presença pertence a uma geração
que as viu tombar
e a margem recrudescer
E não terá prece que alcance o medo
Não terá mansidão que acalme a culpa
Submissa ao que os pés pisam
ao que as mãos podem agarrar
Quando o gosto amargo vier à boca

O céu será a imagem oculta desses dias

sábado, 23 de maio de 2015

LIVRAMENTO


Foto de Tab Tuhin




É muito difícil a vida nesse corpo
É preciso despertar o grão
testar a precisão da chuva
e farto decidir o próximo pouso
Ver por fim que todo rio encontra um passo
toda pena seu avesso


sábado, 16 de maio de 2015

CANÇÃO DE ALUMIAR

Ilustração de Kerby Rosanes




Puxa o fio até a ponta
Pra saber aonde vai dar
Pra sonhar depois de tudo
Pra voltar depois do mar

Reacende o caos do mundo
cava a mina sem pensar
solta o pé, escorre a curva

faz voar o teu penar

sábado, 9 de maio de 2015

RASGO SUTIL

Obra de Miss Take



Flor sem custo
que interrompe linhas
reacende os arcos
Entrega aos olhos caule e cor
suspensos sobre a terra
Invade com desprezo o que pende como estigma
Sem causalidade
A flor salva as tuas formas


sábado, 2 de maio de 2015

Pretérito



Esqueletos retirados de catacumbas em Roma.


Triste fim, nasceu príncipe. Perdeu a possibilidade de não ser. Caiu na esteira do mundo como uma estátua de mármore.
A janela se abriu e encontrou poeira nos móveis. O sol se pôs antes de chegar a consciência de que é belo o vermelho e a esfera que se move para outro lado.
Triste fim, nasceu príncipe. Resta-lhe tudo. Foi recebido ternamente pela malha bruta do mundo. Foi posto num saguão limpo entre objetos raros.
Uma fotografia parada está entre seus dedos mínimos. Lá ele se encontra no colo quente de sua madre jovem e seu olhar se levanta sem saber quem primeiro o abandonou.