domingo, 29 de setembro de 2013

ABANDONO


Fotografia de Alastair Magnaldo


É hora de ir a um outro lugar feito de palavras macias e leves como um balão que fatalmente se dissipe em qualquer parte depois de fazer beleza nos olhos.
Um outro lugar onde a expressão no rosto tenha mais que ausências, seja um lance secreto de dados ou não, onde o sentido guardado permaneça raro e só eu e uns poucos condenados possam segurá-lo entre as duas mãos sem escorrer pelas fendas.
Nesse outro lugar o amplo campo de fora se confunde com o meu jardim que ainda é cheio de grades cobertas de era. 
Só então, livre de pesos, poderei respirar, por fim.




domingo, 8 de setembro de 2013

CONTEÚDOS REJEITADOS

Foto de Silvia Grav

Algumas pessoas estão sobrevivendo, vagando pelo mundo sem descobrir os próprios passos ou o som que produzem quando deixam marcas na areia.
Arnaldo é um homem como qualquer outro e um homem como poucos. Nele o vazio no peito se tornou mistério insone. Ele vive procurando essa cicatriz em certa parte do corpo, nas mãos, no peito, no rosto.
Ele está acordado. Nesse exato momento abriu os olhos e, cheio de fé, derrama o primeiro pé sobre o chão frio. Arnaldo sabe que está só, procura as sandálias.
A janela na frente parece pequena demais, vultos e silêncios se esgueiram na sombra. Ele toma o banho na cuia, serve-se do café preto, apanha a chave e esconde-se na luz. Está indo novamente ao encontro de mais um dia como uma presença que todos veem e ignoram.