Fotografia de Hossein Zare |
Está abafado. Abro a janela e tento sentir o
vento. Não há muito espalhado por aí.
Estou tentando te tocar faz tempo. O que falta?
Agora uma brisa passa de leve. Provavelmente eu vou sair essa noite, mas a
porta continua fechada. Também estará fechada no dia seguinte.
Eu quero tocar o teu corpo. E estás perto, cada vez
mais, tu sabes bem. As palavras abrasam por dentro até sair um líquido branco.
Elas abrasam e secam ainda na tua boca, sem prolixidade.
Eu sigo igual, disperso, espalhado no improvável,
buscando algo que pode ser você. Eu quero tocar o teu corpo outras vezes. E
quem sabe, num desses dias tu não serás um ente separado, não mais um corpo
apenas, pernas e braços consumarão a nossa identidade.
Fecho a janela, as persianas dobram sobre si mesmas,
permaneço só, povoado de desconcerto.