domingo, 4 de agosto de 2013

UMA TARDE DE SOL

Fotografia de Hossein Zare



Está abafado. Abro a janela e tento sentir o vento. Não há muito espalhado por aí.
Estou tentando te tocar faz tempo. O que falta? Agora uma brisa passa de leve. Provavelmente eu vou sair essa noite, mas a porta continua fechada. Também estará fechada no dia seguinte.
Eu quero tocar o teu corpo. E estás perto, cada vez mais, tu sabes bem. As palavras abrasam por dentro até sair um líquido branco. Elas abrasam e secam ainda na tua boca, sem prolixidade.
Eu sigo igual, disperso, espalhado no improvável, buscando algo que pode ser você. Eu quero tocar o teu corpo outras vezes. E quem sabe, num desses dias tu não serás um ente separado, não mais um corpo apenas, pernas e braços consumarão a nossa identidade.
Fecho a janela, as persianas dobram sobre si mesmas, permaneço só, povoado de desconcerto.