sábado, 27 de junho de 2015

Louva-deus

Fotografia de Marc Lagrange




Iremos amiúde ver o mar
E já não me amarás como um estrangeiro.
(Estranho, Max)


Estarei na tua caça à hora do jantar.
A estrada é ampla em carros e corpos invisíveis, teus sentidos me fazem errar sem problemas.
Estou aqui, sentado no sofá, olhando teus olhos, por vezes, tua boca. Em cada gesto revela-me quem és.
Saboreio o alimento, os morangos vêm coroar a noite. Estou entregue, teus braços me contam sortilégios. Revelam-me desejos.
Depois do gozo, debruço-me em tuas pernas, conversamos sobre nada e o nada nos apetece. Empunhas faca de longa lâmina. Pesos já não me seguram, num instante vejo o mar – grãos de areia aderem à pele úmida.

Preparo meu corpo para ser a tua casa.


sábado, 13 de junho de 2015

A BEIRA

 
Foto de Antonio Mora



Escrevem livros para lhe encobrir
Propagandas distorcem sua verticalidade
Mas a beira não esconde o medo

Provoca-me a queda
Seduz o limiar
Pau desejando carne aberta
Vertigem que desperta o outro lado

Tudo frágil e inescapável
Frente à
fome
que digere o espetáculo
acende miudezas invisíveis e
corrói o mármore talhado
em poucos segundos a fera perde a dúvida