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Foto da serie "Espelho quebrado, céu do entardecer", de Bing Wrigth |
Sondou a
própria alma em busca de reflexos distorcidos, imagens destoantes, oscilações.
Embora em si soubesse que nada poderia ser vislumbrado de seus olhos,
restava-lhe apenas a ausência de salvação. Sentado, sua vontade percorria cada
ponto como se os tocasse com a ponta dos dedos. Limitado, sua vontade era feita
ao mesmo tempo de asas e correntes, de estar entregue ao voo e permanecer
pregado ao chão. Percebeu que não estava só, que outros o acompanhavam no
abismo, na contida tendência de seus gestos.
Era ele e
outras pessoas na sala de espera. A vida impõe senhas impossíveis. Ainda assim
ele esperava a sua vez na sala, como todos os outros, preparados ou não.
Sussurros emanavam
da cena congelada. Uma mulher a folhear uma revista, e a cada fotografia, a
cada atenção voltada àquelas cenas frias iam movimentos de melancolia suspensa
e de cansaços.
Outra está a assistir a televisão
pregada na parede e que se ouve mal. O som assim posto salva da lucidez
a quantidade de vazios capazes de acordar durante a extensão de silêncios da
espera.
Naquela sala, naquele agora pleno de fugacidade, habitam vidas
milimétricas, de horário marcado, de espírito marcado.
Enquanto
ele, dono dos olhos suspensos, mirava a ordenação aparente dos nomes e a
iminência de um chamado.