Foto de autor desconhecido |
O interruptor mostrava seu feixe
incandescente na penumbra. A hora logo se aproximaria. Viria segundo por
segundo como numa clepsidra o hálito úmido da hora, sem surpresas, igual sorte
de todas as manhãs, acordar durante a faixa morta da noite e dar de cara com o
tempo. Uma coisa escondida no espaço entre os ponteiros reforçava a penumbra e
a massa pálida do dia. Ele todas as noites antes de dormir em sua cabeça ia até o relógio e atrasava uma, duas horas da máquina, que assim permanecia pendurada. Acima do
tempo a máquina vazia do tempo.
É, vem a manhã. Nada o faria
perder o acréscimo sutil, a suspensão das sombras, o retorno dos seres as suas
utilidades. Das horas mortas o fim. Silêncio, o primeiro tédio do dia. E vinha
risonho e longínquo como o bom dia dos locutores das rádios comunitárias.
Morava num quarto e sala desarrumado, onde as infiltrações do teto se conjugavam
à sujeira das paredes nunca pintadas. Era incrustada na parede central que a
janela gradeada mostrava o surgimento em meio às demandas e a fumaça. Ele,
contudo permaneceria em sua cama desconfortável à espera.
A madrugada se perdia no lugar. A
memória não sabia por quais labirintos andava, talvez na indistinção. As
sombras se recolhiam. Cada coisa retornava a sua condição. A parede úmida, o
relógio atrasado.
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