sábado, 14 de junho de 2014

A EXISTÊNCIA DA CHAMA



Foto de autor desconhecido




O interruptor mostrava seu feixe incandescente na penumbra. A hora logo se aproximaria. Viria segundo por segundo como numa clepsidra o hálito úmido da hora, sem surpresas, igual sorte de todas as manhãs, acordar durante a faixa morta da noite e dar de cara com o tempo. Uma coisa escondida no espaço entre os ponteiros reforçava a penumbra e a massa pálida do dia. Ele todas as noites antes de dormir em sua cabeça ia até o relógio e atrasava uma, duas horas da máquina, que assim permanecia pendurada. Acima do tempo a máquina vazia do tempo.

É, vem a manhã. Nada o faria perder o acréscimo sutil, a suspensão das sombras, o retorno dos seres as suas utilidades. Das horas mortas o fim. Silêncio, o primeiro tédio do dia. E vinha risonho e longínquo como o bom dia dos locutores das rádios comunitárias. Morava num quarto e sala desarrumado, onde as infiltrações do teto se conjugavam à sujeira das paredes nunca pintadas. Era incrustada na parede central que a janela gradeada mostrava o surgimento em meio às demandas e a fumaça. Ele, contudo permaneceria em sua cama desconfortável à espera.

A madrugada se perdia no lugar. A memória não sabia por quais labirintos andava, talvez na indistinção. As sombras se recolhiam. Cada coisa retornava a sua condição. A parede úmida, o relógio atrasado.




Nenhum comentário:

Postar um comentário