sábado, 21 de junho de 2014

SALA DE ESPELHOS NÚMERO DOIS



 
Foto da serie "Espelho quebrado, céu do entardecer", de Bing Wrigth
   
Sondou a própria alma em busca de reflexos distorcidos, imagens destoantes, oscilações. Embora em si soubesse que nada poderia ser vislumbrado de seus olhos, restava-lhe apenas a ausência de salvação. Sentado, sua vontade percorria cada ponto como se os tocasse com a ponta dos dedos. Limitado, sua vontade era feita ao mesmo tempo de asas e correntes, de estar entregue ao voo e permanecer pregado ao chão. Percebeu que não estava só, que outros o acompanhavam no abismo, na contida tendência de seus gestos.

Era ele e outras pessoas na sala de espera. A vida impõe senhas impossíveis. Ainda assim ele esperava a sua vez na sala, como todos os outros, preparados ou não.

Sussurros emanavam da cena congelada. Uma mulher a folhear uma revista, e a cada fotografia, a cada atenção voltada àquelas cenas frias iam movimentos de melancolia suspensa e de cansaços. 
Outra está a assistir a televisão  pregada na parede e que se ouve mal. O som assim posto salva da lucidez a quantidade de vazios capazes de acordar durante a extensão de silêncios da espera. 
Naquela sala, naquele agora pleno de fugacidade, habitam vidas milimétricas, de horário marcado, de espírito marcado.

Enquanto ele, dono dos olhos suspensos, mirava a ordenação aparente dos nomes e a iminência de um chamado.


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