Foto pertence à série Paris New York São Paulo de C. Criseo e M. Verlomme |
Ele tinha fundo. Andava pelo vazio procurando algo
que se encaixasse perfeitamente no espaço que escondia entre o tórax e o outro
lado. Um dia encontrou uma pedra de medida certa e comprimento adequado.
Caminhou com ela por rotações inteiras e viu o tempo morrer e nascer cada dia. Ele
era a pedra, a pedra era ele.
No momento certo decidiu que era hora de colocar a
pedra no espaço determinado. Não percebeu, todavia que seu peito se fazia mais
e mais apertado. Foi quando a pedra se partiu e ele teve que ir em busca de um
substituto para aquela ausência.
Foi andando no vazio, entre ruas e prédios, que ele
encontrou um espelho partido. E o espelho partido cabia exatamente no espaço
que lhe sobrava no peito. Sem demora ele tentou acomodá-lo naquele lugar que um
dia fora vale, mas agora era apenas um declive. Com pesar percebeu que o fundo
peito aos poucos se fazia raso e o espelho lhe arranhava, lhe sangrava o corpo.
Então ele se partiu em pedaços menores e o homem continuou sua passagem com um
pequeno espaço a completar.
Foi enquanto andava no vazio, cercado de pessoas, lama
e asfalto, que ele percebeu jogado um botão. E o botão com muito esforço se
amoldava no espaço mínimo que lhe sobrava na pele que ele podia tocar e tapar
com o dedo nos momentos de maior aflição. O botão tinha outros quatro furos,
pequeno e flexível se conformou perfeitamente àquela reentrância na pele.
E foi andando no vazio em meio ao silêncio que a sua
visão se fez clara por um breve instante. Ele percebeu que tateava em círculos
as paredes de um quarto fechado. Ainda assim, sem surpresa ou padecimento, se
virou e como um afogado, se deixou levar pela superfície ondulante, por uma
distancia qualquer até uma outra margem.
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