domingo, 9 de junho de 2013

O ENCOBERTO

Foto pertence à série Paris New York São Paulo de C. Criseo e M. Verlomme


Ele tinha fundo. Andava pelo vazio procurando algo que se encaixasse perfeitamente no espaço que escondia entre o tórax e o outro lado. Um dia encontrou uma pedra de medida certa e comprimento adequado. Caminhou com ela por rotações inteiras e viu o tempo morrer e nascer cada dia. Ele era a pedra, a pedra era ele.

No momento certo decidiu que era hora de colocar a pedra no espaço determinado. Não percebeu, todavia que seu peito se fazia mais e mais apertado. Foi quando a pedra se partiu e ele teve que ir em busca de um substituto para aquela ausência.

Foi andando no vazio, entre ruas e prédios, que ele encontrou um espelho partido. E o espelho partido cabia exatamente no espaço que lhe sobrava no peito. Sem demora ele tentou acomodá-lo naquele lugar que um dia fora vale, mas agora era apenas um declive. Com pesar percebeu que o fundo peito aos poucos se fazia raso e o espelho lhe arranhava, lhe sangrava o corpo. Então ele se partiu em pedaços menores e o homem continuou sua passagem com um pequeno espaço a completar.

Foi enquanto andava no vazio, cercado de pessoas, lama e asfalto, que ele percebeu jogado um botão. E o botão com muito esforço se amoldava no espaço mínimo que lhe sobrava na pele que ele podia tocar e tapar com o dedo nos momentos de maior aflição. O botão tinha outros quatro furos, pequeno e flexível se conformou perfeitamente àquela reentrância na pele.

E foi andando no vazio em meio ao silêncio que a sua visão se fez clara por um breve instante. Ele percebeu que tateava em círculos as paredes de um quarto fechado. Ainda assim, sem surpresa ou padecimento, se virou e como um afogado, se deixou levar pela superfície ondulante, por uma distancia qualquer até uma outra margem.





Nenhum comentário:

Postar um comentário