Fotos de Alla Mirovskaya para a série "Distant and Close" |
Ela depositava naquelas palavras toda a sua
esperança, toda a sua vida. Seu dedo deslizava sobre o papel e a certeza da
palavra escrita à sua frente abafava-lhe o grito.
Devastadora como uma torrente de rio represado ela
queria levar a quem quer que fosse a sua esperança, a sua vida, para
abafar-lhes o grito e guiar-lhes a consciência.
Ela andava certa de cada passo, de modo retilíneo e
nessa direção caminhava, mas se perdia. Cuidava para que seu canto diário não se
detivesse e assim vigiava a porta da casa para que a dúvida não lhe assaltasse
de noite, nem lhe surpreendesse ao meio dia.
Ela era frágil, segurava-se com cuidado nos
corrimões e mantinha-se de pé com dificuldade. Ela estava no outro extremo
buscando agarrar-se a cada grão que flutuasse no vento. Ela queria respirar,
mas conseguia fazê-lo apenas quando comunicava ao ato demasiado esforço.
Até que um dia o livro caiu de sua mão num momento
de profunda emotividade, então uma página se desprendeu. Ela estava numa
pregação com enfermos. Uma sutil inquietação a confrangeu. Foi ao chão,
recobrou a folha do livro e logo voltou a falar de toda a grandeza que cabia
entre seus dedos - interrompia outro grito de desespero e como um bicho acuado
voltava a se esconder entre folhas amarelecidas.
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