domingo, 5 de maio de 2013

CÁRCERE DE VIDRO




Fotos de Alla Mirovskaya para a série "Distant and Close"



Ela depositava naquelas palavras toda a sua esperança, toda a sua vida. Seu dedo deslizava sobre o papel e a certeza da palavra escrita à sua frente abafava-lhe o grito.
Devastadora como uma torrente de rio represado ela queria levar a quem quer que fosse a sua esperança, a sua vida, para abafar-lhes o grito e guiar-lhes a consciência.
Ela andava certa de cada passo, de modo retilíneo e nessa direção caminhava, mas se perdia. Cuidava para que seu canto diário não se detivesse e assim vigiava a porta da casa para que a dúvida não lhe assaltasse de noite, nem lhe surpreendesse ao meio dia.
Ela era frágil, segurava-se com cuidado nos corrimões e mantinha-se de pé com dificuldade. Ela estava no outro extremo buscando agarrar-se a cada grão que flutuasse no vento. Ela queria respirar, mas conseguia fazê-lo apenas quando comunicava ao ato demasiado esforço.
Até que um dia o livro caiu de sua mão num momento de profunda emotividade, então uma página se desprendeu. Ela estava numa pregação com enfermos. Uma sutil inquietação a confrangeu. Foi ao chão, recobrou a folha do livro e logo voltou a falar de toda a grandeza que cabia entre seus dedos - interrompia outro grito de desespero e como um bicho acuado voltava a se esconder entre folhas amarelecidas.  


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