domingo, 12 de maio de 2013

O VÔMITO DAS MARÉS

Foto de Arash Ashkar





Em torno de suas mãos frias ardia-lhe o peito. Buscava ar lá aonde os olhos não alcançavam. Ele gostaria de dizer a ela mais uma palavra que fosse antes que tudo terminasse. Ela se foi como um vaso quebrado e com seus segredos perdidos dentro da caixa. As amigas dele viriam a qualquer momento para amparar-lhe. Por enquanto mergulhava as lembranças no fundo rio que a sua frente se abria em águas marrons.
Sua irmã não lhe permitiu participar dos rituais de sepultamento. Ele fora banido há muito tempo daquela casa. Alguns minutos atrás ele irrompera em meio ao escândalo dos presentes para vê-la ao menos. Ela sob uma aparência cálida guardava um silêncio que parecia só dela. Logo foi obrigado a deixar o lugar, preferiu que assim o fosse.
Seus cabelos se debruçavam no vento, uma chuva fina começou a cair na orla. A imagem dela deitada sobre flores era de uma paz que parecia impossível de lembrar. No encontro da correnteza com o céu apagado ele buscava os dias de reparação que não vieram.


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