domingo, 19 de maio de 2013

OS ARGUMENTOS DA FERA


Foto de Eikoh Hosoe



Copo trincado na superfície, sentidos que se encontram na rotina. Suspensas, as muralhas são incapazes de encobrir aquele que dormita. Os sons a se elevarem até a última altura são o anúncio da esterilidade dos caminhos. Recriação contínua do diverso, imaginação emoldurada no abismo, conhecimento que não ultrapassa o lado oposto dos termos, maneira irreversível do olhar, o medo.
Iguais repostas se constituem dispersas na umidade respirável, no surgimento e fenecer do toque, nas aspirações em segredo da pedra. Ao brotar da luz no peito, CUIDADO! – a próxima palavra pode surgir banal e ferir. Ameaçadores permanecem e se consomem até as retinas, ou em direção ao nada, às ocas manifestações refletidas num acréscimo desmesurado das horas.
Pelas ruas, os carros, exército de metal que avança rumo a um desconhecido ponto, a fuga. Oscilação de vínculos na vertigem a espraiar-se contra ondas.
As palavras acorrentam...
Libertam?
A observar toda a sensualidade presente no passar. Tocar e perceber inteiramente no real o cerne do silêncio, no tempo as flores e o aroma da flor. Qualidade rara no lugar onde os objetos são cobertos pela palavra entreaberta.
O mundo é o medo da hora imperceptível que fenece, fluídica qualidade que recebe do tempo.  Acentuada solidão, apenas mais um motivo; sendo o da angústia o nome próprio das coisas que provocam um movimento excessivo do espírito.
Na distensão constante e total para o infinito prepondera a sua essência, palavra conjugada ao irreversível que em tudo aprisiona em sua verdade, seguir. A vida encarcerada é o limite que o espírito permite nomear.
Por quê?
E por que não?
Fora da gaiola das hesitações absoluta é a existência do crepúsculo, a morte, a luz que se desprende inteiramente do instante. A leveza do todo a se deixar tocar é surpreendente e oblíqua.
A imagem no espelho é o reflexo da ilusão sentida, para que depois das fronteiras a liberdade amalgamada na aridez angustiada da palavra se dissipe.




Um comentário:

  1. Quero escrever um dia como você Leo. Há um mundo lá fora inquietante, tão inquietante quanto nosso âmago.

    ResponderExcluir