domingo, 28 de abril de 2013

UMA PRESENÇA


Entrou e iniciou a procura interdita por entre os corredores sinuosos. Alguns corredores cobertos de luz, outros na penumbra e outros, com o arrefecer do dia, não eram mais que um abismo entremeado por paredes cobertas de hera. Mas ele até aquele momento, não era feito de hera. Até aquele momento, em procura calma se surpreendia com o próprio arquejar, mal reparara que a porta se fechara atrás de circunvoluções e corredores, dos muros de procurar e se esconder.
Sentou no chão, pegou o primeiro livro. Era de um azul mortiço, páginas amarelas, como se o tempo o envolvesse com fina umidade. Contava uma perda, um certo Paulo perdia sua bagagem, ia de trem para um lugar distante. “As passagens no bolso o deixavam inerte, permaneceria à procura da mala, ou iniciaria viagem sem vínculos com a terra? Paulo estava preparado para ser o que sempre fora ou se encaminharia rumo à avassaladora ventania da viagem? Se ficasse onde estava aceitaria conscientemente o mesmo. Sua atitude era de servo frente ao oráculo. Dize-me o que devo fazer, que caminho tomar. Estou no fim de algo, isso sei, mas o querer de duas vidas que desejam existir vem acompanhado da morte de uma delas. Inerte, tinha um único minuto para decidir antes da partida”.
Estancou, fechou o livro. E o livro retorna ao muro de heras. Ele então percebe o esgueirar de sombras. Percebe que é necessário a presença de outras sombras. Segue, um vulto está ao lado no próximo corredor. 




Fotografia de Arash Ashkar

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