sábado, 8 de dezembro de 2012

AS CORES DO FALSO



A vista do décimo andar era de um campo vazio, lixo, grama irregular e a rua mais adiante completavam o espaço imediato visível da sua janela. Mas em todas as vezes que precisava descansar os olhos era sobre aquele pequeno vazio que ele misturava tédio e cansaço.
Num desses dias iguais de calor opressivo ele resolveu descer para ver melhor. Encontrou um cão sem uma perna que buscava comida nos detritos, se aproximou do pelo cinzento e o tocou com a pena que sentiria por si mesmo se pudesse senti-la outra vez.
Ele não encontrou no cachorro um espaço de exceção, ele queria apenas um acontecimento que tornasse sua vida surpreendente e por um momento o aproximasse do som que tem o mundo quando acorda de manhã, cálido, frio, transparente.

2 comentários:

  1. Nossa, bem profundo os seus escritos. Gostei muito. Primeira vez que visito seu blog e fiquei impressionado. Parabéns!

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  2. Às vezes nos aproximamos, mudamos de foco, mas o objeto continua o mesmo.Nem tudo é fugaz.

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