Foto de Sebastião Salgado |
Vim de uma batalha. Sentada agora diante da água
azul da piscina pouco se vê dos rastros da agonia, o rosto banhado de brasas,
as penas que arrancadas de mim levaram minha leveza.
Os pés alquebrados, o olhar perdido, as nuvens
cobrindo o tempo e se movendo na distância são traços espalhados na tela,
vestígios de uma escuridão.
Eu estou sentada numa palavra que apenas eu posso
escutar. Ela vem abafada, às vezes gritando. Não a compreendo bem, prefiro
escondê-la, encobri-la com meus olhos fechados ou com a toalha úmida.
Eu vim de um campo de batalha.
Eu empunhei espadas.
Eu defendi os meus.
Agora na placidez solitária desse lago deixo meus
despojos, dispo meu corpo, mostro minhas feridas abertas e as cicatrizes lavradas
a mim própria.
Aos poucos sinto na pele a chuva que se liberta do
céu e eriça os pelos de toda a líquida superfície.
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