domingo, 29 de dezembro de 2013

FINAL

Foto de Sebastião Salgado



Vim de uma batalha. Sentada agora diante da água azul da piscina pouco se vê dos rastros da agonia, o rosto banhado de brasas, as penas que arrancadas de mim levaram minha leveza.
Os pés alquebrados, o olhar perdido, as nuvens cobrindo o tempo e se movendo na distância são traços espalhados na tela, vestígios de uma escuridão.
Eu estou sentada numa palavra que apenas eu posso escutar. Ela vem abafada, às vezes gritando. Não a compreendo bem, prefiro escondê-la, encobri-la com meus olhos fechados ou com a toalha úmida.
Eu vim de um campo de batalha.
Eu empunhei espadas.
Eu defendi os meus.
Agora na placidez solitária desse lago deixo meus despojos, dispo meu corpo, mostro minhas feridas abertas e as cicatrizes lavradas a mim própria.
Aos poucos sinto na pele a chuva que se liberta do céu e eriça os pelos de toda a líquida superfície.




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