Foto de Paula Sampaio |
Tua
alma de ar ameno e taciturno, teu bosque comovido pela luz, limiar entre meu
corpo e o teu, padecente. Estás parado e não sabes para onde voltar teu
espírito. Sobre a superfície lisa do vento escorre teu olhar, gota a gota. À
frente muros ardem de sol, a casa no início da rua incrustada de fogo; estás
inerte, tua boca emudecida para o que seja, jornal respingando sangue na
direção dos teus olhos, que baços, não o vêem.
Quem te dirá do mundo para que possas ouvir?
Não
sei quanto tempo resta, da janela vejo sombras que se dissolvem na noite em
início, minha mala está pronta, próxima à porta. Nesta carta há preditas
distâncias. Eu me ausentarei em breve, assim que seja findo o que tenho que
dizer-te. Não há início que se cumpra, tudo é uma partida, um prolongamento de
vazios. Sair é pertença finda. O que mais seria a vida senão a queda brusca de
um copo cheio de água? Sim, sentirás minha ausência de poço fundo habitado pelo
nada, conduzirás flores à minha lápide, chorarás por uma semana ou quinze dias.
Mas retornarás ao teu jornal aberto, teus muros de ferro, tua casa vazia ao
longe. Não tão longe talvez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário