sábado, 30 de novembro de 2013

EU UM AVESSO

Itamar Assumpção



Um dia eu vou contar a história desse encontro, das conversas longas, da raridade escorrendo pela mesa, dos teus olhos de águia no palco cantando as minhas medalhas sobre o peito.
Eu falo dos teus cabelos, e eu lembro.
Eu falo dos teus olhos fartos, e eu lembro.
Toda aquela imponente alucinação era uma forma de grandeza, uma impressionante forma delicada pressionando a minha pele, envolvendo a tua língua num espetáculo que em uma hora esvaziará o mundo para passar o corpo, para deixar o corpo passar, para escrever ininteligível.
Uma linguagem manchada de sangue e de pus é o que precisamos comer no chá das cinco e provavelmente esse chá já foi servido em becos e inundações.


Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Ela é tudo que me sobra
Viver vai ser a nossa última obra

Composição: Itamar Assumpção e Paulo Leminski





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