A sabedoria está na cor dos olhos.
Ele estava incapaz de discernir entre as sensações na pele por excesso de
êxtase. Seria um final aparente de um aparente arfar contrito do peito.
Contemplou a sala vazia e a sua
vida como se dera até ali, metade fosso, a outra metade as próprias divagações
– transporia o muro, seria algo mais profundo que o negro, tornaria-se uma
profundidade torturante, inteiro.
Ele pouco a pouco se perdia, não
reencontraria-se na senda, suavemente deposto, suavemente banido pela rosa e
pela inclemência dos espinhos. A sala vazia, o mundo apagou-se, as cadeiras à
frente estendidas num campo de vaidades sutil. Se levantaria e construiria o
novo, o algo que se conjugasse às sensações de si pelo mover-se do momento -
não, impossível seria erigir algo diferente, além do íntimo ser.
Estava cansado, e as sombras
acentuavam ainda mais a aparência extenuada de seus vícios, paixões em pulsação
plena pelo corpo, prazeres confundidos com as intermitências do fosso. Estava
ali como esteve em outros lugares de recordação hesitante, à beira de palpáveis
horizontes, como fora anterior ao surgimento das hostes que o honrariam na
batalha.
Era limitado, era repleto de curvas
seu caráter, e a consciência do poder absoluto que aquela certeza possuía o
impulsionava ao sangue derramado sobre as cadeiras próximas. Mas o imo líquido
não sobressairia em contraste com a quantidade de cadeiras revestidas em couro
negro, sua vida, sucessão interrompida de sentidos a espraiar-se.
Morreria, aos poucos e só, como
numa câmara escura, abrangeria na proximidade daquela profecia todo o espaço
num abraço inteiro de dúvida. Seu orgulho íntimo, poder morrer sangrando -
finda a vida, findo o ar e o peso contido no ar -, aspirar o cheiro coagulado
do vermelho. Ambição acima das outras, inclusive das que trouxera para
compartilhar da fugacidade do minuto.
Preso ao movimento dos olhos
voltados para o teto, o que restava ainda ser riscado? O que caberia de
compreensível na imensidão tonitruante do universo? Possivelmente a noite era
sustentáculo da sua necessidade inútil de ausências, fraternidade sensível
entre ele e a una certeza presente na sala.
Amplo, de tonalidade soturna e
incongruências várias, seu coração quase não aguenta mais - a calma. Logo virá
um despertar.
Não, ele não poderia estar só.
Agora, morto, na extensão da palma da mão um líquido viscoso, um escorrer sobre
tudo, uma imensa visão.
Manifesto Macumbacyber
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