domingo, 14 de julho de 2013

FORÇA OCULTA

Fotografia da serie Ashes and Snow de Gregory Colbert


Não é uma novidade que Raimundo Rodrigues, de quarenta e sete anos, esteja agora procurando a arma com a qual matará sua mulher daqui a trinta e nove minutos no salão onde ela trabalha há um pouco mais de dois quarteirões do quarto que alugou depois da separação.
“Ela não vai ficar com tudo, quem ela pensa que é?”- era a frase que pulava constantemente do oco de dentro da cabeça de Raimundo Rodrigues para a sua boca. “Ela havia ido longe demais”, era o que dizia. 
Eu explico o que aconteceu antes da história que irá se desenrolar. Depois da última agressão, a mulher sem nome de Raimundo Rodrigues, tonou-se a Maria Rita da ocorrência policial. Maria Rita viu seu nome pela primeira vez quando saiu da delegacia com o dente quebrado e com hematomas pelo braço e pelo rosto devido à última briga com o homem que acreditava que ela lhe pertencia como uma camisa velha e gasta que não se quer fora do armário.
Maria Rita já escuta seu nome e fala palavras belas como dia, lágrima e flor. Sua filha lhe fez um desenho novo: elas de mãos dadas sobre um risco azul, ao fundo, um círculo amarelo flutua.  
No salão ela conversa com as clientes, o galã da novela dá entrevista no programa da Fátima. Ela se aproxima da televisão, aumenta o volume, observa a funcionaria que trabalha ao seu lado e sorri.



Um comentário:

  1. Muito interessante seu texto. É como redescobrir que se tem uma vida, um eu, depois de todos os problemas. Adorei!

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