Fotografia da serie Ashes and Snow de Gregory Colbert |
Não é uma novidade que Raimundo Rodrigues, de
quarenta e sete anos, esteja agora procurando a arma com a qual matará sua
mulher daqui a trinta e nove minutos no salão onde ela trabalha há um pouco
mais de dois quarteirões do quarto que alugou depois da separação.
“Ela não vai ficar com tudo, quem ela pensa que é?”-
era a frase que pulava constantemente do oco de dentro da cabeça de Raimundo
Rodrigues para a sua boca. “Ela havia ido longe demais”, era o que dizia.
Eu explico o que aconteceu antes da história que irá
se desenrolar. Depois da última agressão, a mulher sem nome de Raimundo
Rodrigues, tonou-se a Maria Rita da ocorrência policial. Maria Rita viu seu
nome pela primeira vez quando saiu da delegacia com o dente quebrado e com
hematomas pelo braço e pelo rosto devido à última briga com o homem que
acreditava que ela lhe pertencia como uma camisa velha e gasta que não se quer
fora do armário.
Maria Rita já escuta seu nome e fala palavras belas
como dia, lágrima e flor. Sua filha lhe fez um desenho novo: elas de mãos dadas
sobre um risco azul, ao fundo, um círculo amarelo flutua.
No salão ela conversa com as clientes, o galã da
novela dá entrevista no programa da Fátima. Ela se aproxima da televisão,
aumenta o volume, observa a funcionaria que trabalha ao seu lado e sorri.
Muito interessante seu texto. É como redescobrir que se tem uma vida, um eu, depois de todos os problemas. Adorei!
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