Fotografia de James Houston |
A sua capacidade de regeneração era muito grande,
regeneração pela dor. Às vezes isso lhe concedia um olhar de mármore, frio e
pétreo. Passava por tudo, encontrava a saída de cada labirinto que guardava
dentro. Quando não se deparava com o outro lado acendia uma fogueira e abraçava
as próprias pernas, aninhando a si mesmo.
Era uma forma de atravessar a coragem, construir uma
nova casa depois da onda azul que toca o céu. Um lugar diferente com as mesmas
vigas, mas com tinta fresca nas paredes, novos móveis, outro teto.
Hora de partir, estava sempre partindo. Quem o visse
agora não notaria diferença alguma, distraidamente atravessaria o sangue derramado,
não veria os rastros de luta passando de largo pelos vestígios do último
embate. Mas ele era aquilo, uma outra forma para manter-se vivo, uma carne
pálida brotando de uma casca morta.
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