domingo, 28 de julho de 2013

CRISÁLIDA

Fotografia de James Houston

A sua capacidade de regeneração era muito grande, regeneração pela dor. Às vezes isso lhe concedia um olhar de mármore, frio e pétreo. Passava por tudo, encontrava a saída de cada labirinto que guardava dentro. Quando não se deparava com o outro lado acendia uma fogueira e abraçava as próprias pernas, aninhando a si mesmo.
Era uma forma de atravessar a coragem, construir uma nova casa depois da onda azul que toca o céu. Um lugar diferente com as mesmas vigas, mas com tinta fresca nas paredes, novos móveis, outro teto.
Hora de partir, estava sempre partindo. Quem o visse agora não notaria diferença alguma, distraidamente atravessaria o sangue derramado, não veria os rastros de luta passando de largo pelos vestígios do último embate. Mas ele era aquilo, uma outra forma para manter-se vivo, uma carne pálida brotando de uma casca morta.  






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