domingo, 21 de julho de 2013

EVANESCENTE

Fotografia de Brian Oldhan



Não se deve jogar fora certas coisas. Algumas delas deve-se guardar para realizar a experiência de sentir um mesmo objeto adquirindo um novo significado. Me arrependo de ter jogado no lixo um livro que eu mesmo escrevi aos 10 anos. Agora tento tocar a memória com as mãos de um afogado. Não há um apoio firme, só existe um imenso espelho d’água que logo se desfaz. Eu lembro de uma presença triste, como cacos de vidro numa gaiola. Eu lembro de silêncio e solidão sobre a mesa. Eu leio uma carta abrasada num labirinto insolúvel.

Es un milagro que estés vivo.

Eu sei, minha cara, sigo sabendo.


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