sábado, 5 de julho de 2014

A SALA


Obra de Antonio Mora

 

A sala aos poucos se elevava na angústia branca das paredes, no horizonte sem relógios possíveis incapazes de traçar em seus arcos a nitidez das folhas ao vento. Em suas mãos a rosa não era mais de plástico, a permanência dos espinhos demarcava a embriaguez de uma possibilidade, sua existência calculada e reduzida.
O risco o reduzia, sim. O sufocava pelo medo de estar à beira de rumos e passagens através das quais nenhum ser humano ousou pular, de abismos vários que ser humano algum imaginou um dia ser.
A marca foi se tornando imperceptível, deflagrava sangue e minúcias de escuridão, voracidade circunscrita às camadas mais profundas do esquecimento. Preferia não lembrar porque sabia ter de aceitar na lembrança a distorção, seu aproximar-se pouco a pouco de outro modo, até vir o passar das horas e o levar. Seu destino, as ilusões e um desejo.

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