domingo, 13 de outubro de 2013

TODO O RIO DESCOBRE UM PASSO


Foto de Alexandre Romariz Sequeira


(Caminha até a janela, enxerga no visitante uma parte de si, por isso fala)

Ando recolhendo lembranças como um desesperado procura a próprio rosto pendurado em paredes, no vidro de carros, em cacos mudos no chão.
Eu também tenho meus pesadelos e tenho tentado conviver com eles como qualquer outro. Às vezes acordo no meio da noite para ligar a luz do quarto.

(O som dos carros se adensa, o visitante pede uma água e se senta novamente)

Ando profetizando nas esquinas um novo horizonte, um outro olhar, mais limpo, uma possibilidade que reste. Escrevo cartas de amor sem muros para ti que me visita, mas se desfazem todas no teu olhar vadio e fugaz.
Esse poema é muito difícil? E se você não esperar entendê-lo, e se ele for um mergulho vertical dentro da tua própria vida?

(O visitante se inquieta, atravessa a parede e o deixa sozinho outra vez escutando a própria voz agora em pensamento)

Meu último poema provavelmente terá a cor das tuas águas, de um verde-claro selvagem. Mas nesse momento desenho os mapas da minha própria geografia, recompondo partes de mim que já nasceram dispersas no poente,
E ainda assim, nunca estarei inteiro.    


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