sexta-feira, 8 de março de 2013

A ROSA, O MAR, O ESPELHO




Eu poderia estar diante de um espelho ou atravessando o mar. Nesses lugares não estaria somente, mas seria eu mesmo essas metáforas contundentes pelo fugidio instante de um poema de palavras simples e ritmadas escrito por Cecília Meireles.
Nela me transporto para um lugar de chão movediço, sei que tenho espinhos e me debato no escuro.
Não falo de abstrações, falo da experiência em contato com o corpo de Cecília, algo carnal e inesperado que envolve um mistério que nem é só dela, nem apenas meu. Andando pela cidade, ouvindo o barulho da chuva, pensava em escrever sobre ela. Sobre sua voz calma que penetrou em meus ouvidos e me feriu com o corte fino de um punhal de prata mostrando minhas dores e meus cansaços.
Chego em casa, a chuva cessou. Me sinto como um marinheiro que regressa e não sabe bem onde está porque conhece somente os mares que visitou e que tornaram mais profundos seus olhos.


4º Motivo da Rosa

Não te aflija com a pétala que voa:
também é ser deixar de ser assim.

Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando em mim.

E por perder-me é que me vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

(Cecília Meireles, Mar absoluto e outros poemas)






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