domingo, 4 de julho de 2010

A MANHÃ

Acordei com a sonolência dos que esperam a hora de dormir, talvez por isso pareceu-me estar sonhando. Tudo era silêncio, a menos o som das ruas repletas e das inquietas zonas que sucedem o jogo de claro-escuro do tempo. Podia levantar as minhas vontades submersas, os meus desejos discretos, a folha ainda em branco do dia. Mas tudo era ausência na indistinta zona entre o sonho e a realidade.
Era o pouco que me cabia ser, estar de pé como um louco à espera da morte, sofrer o contido desespero de olhar no profundo desconhecimento das retinas as imagens no porta-retratos da vida. A água jorrou gelada pela face, a despertar ligeira a necessidade de luz e do som vazio das lembranças. O único destino, passar. Corri e lavei o excesso de sensações e pensamentos, tinha pressa em saber qual seria o próximo impulso. Ficou-me diluída a rara oportunidade do segredo. Vesti-me e saí.
O dia passou com a rapidez de um murmúrio ao pé do ouvido, a soltar palavras por mim bem compreendidas. Me disse banalidades e coisas de essência. Porém me encontrava guardado do risco de ser inteiramente, pelos loucos sentidos, buscador. Guiado para fora de mim em correnteza através da rota de um querer límpido e obscuramente claro.
Sentir... Quem sabe se a me esperar em meio às sombras de uma manhã de inverno não estará a imprevisibilidade do sentir ou a confusa intensidade do desejo?







2 comentários:

  1. Sua escrita revela alguém tão íntimo de si mesmo de uma forma q seu eu fica imenso, sentimentalmente cético, dono de si com muito poder. Eu gosaria de ler contos seus ou textos maiores pra te ler mais ;)

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